quarta-feira, março 26, 2008

Neófito

Hoje sonhei com a palavra neófito. No sonho tinha escrito um livro, e o título era este.

O livro tinha capa preta e as letras da palavra neófito estavam gravadas a meio da capa a azul escuro.

Em tributo e veneração aos sonhos, que poderão ser (espero que sim) um sinal de iniciação, fica aqui para vós o poema de Fernando Pessoa:

Iniciação

Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo.

O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.
Vem a noite, que é a morte,
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.
Mas na Estalagem do Assombro
Tiran-te os Anjos a capa:
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.

Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.

Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.

A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não 'stás morto, entre ciprestes.

Neófito, não há morte.


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segunda-feira, março 17, 2008

A liberdade


Esta imagem desde a minha infância que me acompanha. O livro de onde foi retirada é do tempo em que eu ainda não sabia ler. Mas também não é preciso saber ler, a imagem por si é esclarecedora. Lembro-me, que era uma imagem perturbadora.

Como seria possível conseguir estar dentro de um frasco de vidro? Com o tempo fui compreendendo que existem muitas formas de nos enfiarem nestes contentores. Por vezes nem sequer damos conta da manipulação. Só dando conta, quando já não existe ar.

Quanto tempo mais vai durar esta ilusão que é possível aprisionar os outros, nós, o mundo como se fossem entidades que podem ser colocadas em frascos? Separados uns dos outros, em compartimentos, sem a possibilidade de crescerem.

“O homem só pôde torna-se livre quando, através do seu trabalho, acrescentou a esse eu um outro eu capaz de vaguear e que estivesse sempre na situação em que pudesse oscilar continuamente entre o lado do bem e o lado do mal, e que pudesse aspirar sempre a alcançar o conteúdo de toda a evolução.” Rudolf Steiner

Queremos guardar tudo, coleccionar tudo, prender o momento, o afecto, o poder, o tempo. E no entanto é no oscilar do pêndulo, no movimento, ou se quiserem, no equilíbrio entre o bem e o mal que podemos aspirar a ser livres.

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quarta-feira, março 12, 2008

Cada dia que passa estou mais do contra.

Cada dia que passa estou mais do contra.
Contra os blogues sobre o nada, que se tornam diários íntimos, veículos de sedução para seres inertes em mundos etéreos e à procura de salvação.

Contra as movimentos circulares das pessoas entre o blogue, o trabalho, as compras, e o ginásio. Que nada acrescentam na vida dos outros, porque é vazia de sentido, de caminho…
Que revolta, que azia, ler estas coisas…

Sem consciência social, política, estética e ética. Blogues que não servem para nada.

Sou contra os blogues que são a contagem das coisas que se fazem. E quando não se faz ou pensa nada de especial ou importante… por que será que existem?

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