quinta-feira, junho 07, 2007

Marguerite Yourcenar

Ando a reler as memórias de Adriano, e fui buscar este livro para falar sobre o erótico e de como literatura me coloca tão perto de uma qualquer verdade sobre o que sinto, e vejo, e penso, e depois outras, perante esta memórias, a ausência de proximidade é tão grande que só me resta admitir que já não sou o que pensava ser.


Começa assim:

“Pensei várias vezes em elaborar um sistema de conhecimento humano baseado no erótico, uma teoria do contacto, em que o mistério e a dignidade de outrem consistiria precisamente em oferecer ao Eu esse ponto de apoio de um outro mundo.”

“Tais pontos de vista sobre o amor poderiam conduzir a uma carreira de sedutor. Se a não segui foi sem duvida porque fiz outra coisa, aliás melhor. À falta de génio, semelhante carreira requer cuidados e mesmo estratagemas, para os quais me sentia pouco disposto. Essas armadilhas preparadas, sempre as mesmas, essa rotina restringida a perpétuos encontros, limitados pela própria conquista, fatigaram-me.
A técnica do grande sedutor exige, na passagem de um objecto a outro, uma facilidade, uma indiferença que eu não tenho relativamente a eles: de qualquer maneira, deixaram-me mais que eu os deixei a eles; nunca compreendi que alguém se saciasse de um ser.”

Existiu sempre em mim um fascínio sobre a sedução do espírito, do verbo, da palavra.

Devo dizer que em alguns encontros recentes este encanto é oferecido com o corpo. E mais, acho que foi sempre assim, uma completa invasão da carne e dos seus prazeres, que logo depois se perdiam e lá voltava eu novamente à busca de novos prazeres.

Ao ler estas memórias, a beleza da proximidade do humano, e do afastamento das imagens do meu mundo deixam-me com a sensação obtusa de não ter sido assim, e de estar cada vez mais longe do que pensava ser. De repente o texto torna-se reflexo invertido de tudo o que sou.

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