quarta-feira, julho 22, 2009

Sobre as palavras que se recusam, os bolos, o chocolate e a fruta



Há palavras que nos beijam


Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Alexandre O'Neill (1924-1986)
Poesia Completa

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terça-feira, julho 14, 2009

QueBom QueBom QueBom

Vejam bem o estado em que me encontro. Passei a noite a ouvir o álbum tasca beat. Que vontade de dançar...
Não ponho o álbum todo, porque acho indecente para os artistas, mas a vontade que tinha era de partilhar todas as músicas.
O site dos artistas:
http://www.oquestrada.com/


Se Esta Rua Fosse - Oquestrada



Kekfoi - Oquestrada


Creo - Oquestrada

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terça-feira, maio 19, 2009

o leite azedo está no twitter, é moderno é moderno!


Ser Moderno - Irmãos Catita

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sexta-feira, outubro 03, 2008

Era um redondo vocábulo - Cristina Branco


Era um redondo vocábulo
Uma soma agreste
Revelavam-se ondas
Em maninhos dedos
Polpas seus cabelos
Resíduos de lar,
Nos degraus de Laura
A tinta caía
No móvel vazio,
Convocavam farpas
Chamando o telefone
Matando baratas
A fúria crescia
Clamando vingança,
Nos degraus de Laura
No quarto das danças
Na rua os meninos
Brincavam e Laura
Na sala de espera
Inda o ar educa

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terça-feira, setembro 30, 2008

António Pinho Vargas

Tom Waits - Antonio Pinho Vargas

Dança dos Pássaros - Antonio Pinho Vargas

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sexta-feira, agosto 22, 2008

lindo lindo lindo de morrer



Andava com muitas saudades de ouvir Lhasa de Sela, e de umas férias que passei no Canadá. Como perdi o CD com as musicas... andei no youtube à procura ... e encontrei esta maravilha.

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domingo, julho 27, 2008

“Sampa” de Caetano Veloso



Sem saber como, ao ouvir esta música, inspirada numa cidade que não conheço, a consciência trouxe à realidade o que sinto, o que estou a viver.

Esta noite alguma coisa aconteceu no meu coração. Vou tentar explicar.

É que eu não entendo o mundo, e como a música diz:

“É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
da dura poesia concreta de tuas esquinas
da deselegância discreta de tuas meninas”.

E apesar de nada entender, alguma coisa acontece no meu coração. O que vai acontecendo é o deslumbramento do caminho percorrido, dos encontros inesperados, das partidas eternas, do desconhecido.

E no meu coração, depois de ter ouvido esta música, ficaram mais claros os automatismos que fui obrigada a aprender, para sobreviver. No meu caso, os automatismos ou a programação que fui construindo, formatou o meu pensamento, para apenas ver o reflexo do meu rosto nos outros.

E volto a agarrar na música para tentar explicar:

“Quando eu te encarei frente a frente
não vi o meu rosto
chamei de mau gosto o que vi
de mau gosto, mau gosto
é que Narciso acha feio o que não é espelho
e à mente apavora
o que ainda não é mesmo velho
nada do que não era antes
quando não somos mutantes”

Sei agora, de forma mais clara, que as pessoas, os lugares e as relações que são reflexo da minha imagem, são mais fáceis de suportar, estão mais próximas e são os lugares do hábito. Nesses lugares, consigo mais facilmente controlar a transformação. O hábito é por isso reconfortante, e é bom adormecer no seu colo. No entanto, estes lugares obrigam à repetição, e por isso é mais difícil crescer (transformar o que somos).

O meu coração disse-me esta noite, que o amor pode ser também um difícil começo. E que o mais fácil é afastar o que não se conhece, continuar a viver com a ideia do sonho feliz distante de outras realidades.

Como a musica vai dizendo:

"E foste um difícil começo
afasto o que não conheço
e quem vem de outro sonho feliz de cidade
aprende de pressa a chamar-te de realidade
porque és o avesso do avesso do avesso do avesso"

Mas o desconhecido é também a realidade, e connosco, é também o avesso do avesso do avesso do avesso. É nesse momento da descoberta, que tudo é o avesso do avesso do avesso do avesso, que podemos nomear (e por isso reconhecer) a realidade.

O meu coração voltou a apaixonar-se, e desta vez, por toda a realidade. Aquela que destrói coisas belas e apaga as estrelas, mas também a dos “poetas de campos e espaços” e “ oficinas de florestas” e “deuses da chuva”.

“Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
da força da grana que ergue e destrói coisas belas
da feia fumaça que sobe apagando as estrelas
eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços
tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva”


É possível a unidade com todas estas coisas, pois nós somos todas elas. É a partir desta unidade, que se constroem “Pan-Américas de Áfricas utópicas”. Nesta nova unidade, podemos passear e sentir a realidade.

É claro que a música é sobre São Paulo, e sobre a estranheza de um baiano que não consegue compreender aquela realidade. Mas para mim, esta música foi muito mais, como já perceberam.

Encontrei um sentido, um caminho, para continuar a caminhar. Caminho, que mais claramente tem de ser aberto a todos, abrindo as portas a toda a realidade, ir ao encontro do desconhecido, ao encontro daquele que não é o meu reflexo, mas está nos antípodas. Com uma atenção permanente, para que a velha mente não volte novamente a tomar conta de tudo.

Fica aqui também a letra completa, e a versão que encontrei no YouTube, que é a versão mais próxima do que vivi esta noite.

“Alguma coisa acontece no meu coração
que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João
é que quando eu cheguei por aqui, eu nada entendi
da dura poesia concreta de tuas esquinas
da deselegância discreta de tuas meninas

Ainda não havia para mim Rita Lee, a tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João

Quando eu te encarei frente a frente
não vi o meu rosto
chamei de mau gosto o que vi
de mau gosto, mau gosto
é que Narciso acha feio o que não é espelho
e à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
nada do que não era antes quando não somos mutantes.

E foste um difícil começo
afasto o que não conheço
e quem vem de outro sonho feliz de cidade
aprende de pressa a chamar-te de realidade
porque és o avesso do avesso do avesso do avesso.

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
da força da grana, que ergue e destrói coisas belas
da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços
tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva.

Pan-Américas de Áfricas utópicas,
túmulo do samba mais possível
novo Quilombo de Zumbi
e os novos baianos, passeiam na tua garoa
e novos baianos te podem curtir numa boa.

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