quarta-feira, março 26, 2008

Neófito

Hoje sonhei com a palavra neófito. No sonho tinha escrito um livro, e o título era este.

O livro tinha capa preta e as letras da palavra neófito estavam gravadas a meio da capa a azul escuro.

Em tributo e veneração aos sonhos, que poderão ser (espero que sim) um sinal de iniciação, fica aqui para vós o poema de Fernando Pessoa:

Iniciação

Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo.

O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.
Vem a noite, que é a morte,
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.
Mas na Estalagem do Assombro
Tiran-te os Anjos a capa:
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.

Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.

Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.

A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não 'stás morto, entre ciprestes.

Neófito, não há morte.


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