“Quando a nossa festa se estragou E o mês de Novembro se vingou Eu olhei p’ra ti E então eu entendi Foi um sonho lindo que acabou Houve aqui alguém que se enganou”
Velas Temos à frente os dias do futuro como uma fila de velas acesas – quentes e vivas e douradas velas.
Ficam atrás os dias passados, fileira triste de velas sem chama: Ainda sobe fumo das que estão mais perto, Vergadas velas frias que já se apagaram.
Eu não quero vê-las: tanto me entristece o seu ar de agora como relembrar o fulgor antigo. Olho à minha frente as velas acesas.
Não vou voltar-me nem vou ver num arrepio como cresce tanto a fileira escura, como é tão veloz o apagar das velas Kavafis
Queria partilhar o poema de Kavafis sobre o passar do tempo e sobre as memórias que não se apagam. Era tão bom, que apenas fosse possível olhar para as luzes quentes, intimas reconfortantes à nossa volta, mas por mais que tente não consigo deixar de olhar para trás, para o infinito das velas, que já apagadas continuam vivas, luminosas, presentes.
A Alice está doente, a médica não disse que estava. Quando recebemos as análises, foi com alívio, que recebemos a noticia que estava tudo bem. Mas isto foi há quinze dias, e ela continua a passar o tempo deitada, praticamente não se mexe. Queria parar o tempo deixa-lo quieto, e não olhar, não sentir, não respirar. Tenho medo de olhar enfrente, olhar para o resto de velas que ainda faltam apagar.