domingo, abril 22, 2007

Velas
Temos à frente os dias do futuro
como uma fila de velas acesas –
quentes e vivas e douradas velas.

Ficam atrás os dias passados,
fileira triste de velas sem chama:
Ainda sobe fumo das que estão mais perto,
Vergadas velas frias que já se apagaram.

Eu não quero vê-las: tanto me entristece o seu ar de agora
como relembrar o fulgor antigo.
Olho à minha frente as velas acesas.

Não vou voltar-me nem vou ver num arrepio
como cresce tanto a fileira escura,
como é tão veloz o apagar das velas
Kavafis

Queria partilhar o poema de Kavafis sobre o passar do tempo e sobre as memórias que não se apagam. Era tão bom, que apenas fosse possível olhar para as luzes quentes, intimas reconfortantes à nossa volta, mas por mais que tente não consigo deixar de olhar para trás, para o infinito das velas, que já apagadas continuam vivas, luminosas, presentes.

A Alice está doente, a médica não disse que estava. Quando recebemos as análises, foi com alívio, que recebemos a noticia que estava tudo bem. Mas isto foi há quinze dias, e ela continua a passar o tempo deitada, praticamente não se mexe. Queria parar o tempo deixa-lo quieto, e não olhar, não sentir, não respirar. Tenho medo de olhar enfrente, olhar para o resto de velas que ainda faltam apagar.

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