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“O mundo funciona por meio de sortilégios desencadeados em volta do não-dito. O não-dito é mais forte do que todo um arranjo de coisas fáceis de transmitir e que formam uma cadeia entre as pessoas, mas uma cadeia pronta a ser quebrada. O que a torna suportável, o que funciona como um acordo entre toda agente, é saber que não há nada de muito duradouro e que os sentimentos e os hábitos deles não correspondem a nada de muito importante. Para compensar as criaturas dessa indiferença inóspita que se gera até ao mais sagrado dos laços humanos, os céus criaram uma espécie completamente indecifrável e cujo o poder está na desinteressada vontade de destruição. ”
Jóia de família de Agustina Bessa-Luís,Página 39
A desinteressada vontade de destruição ou se quiserem a vontade gratuita de criticar brincando, para chamar à atenção e mudar a realidade, merece a mais respeitosa vénia da minha parte. Os bigodes nos cartazes merecem o meu respeito porque retiram as criaturas da indiferença.
Este circo de eleições não foi criado pela campanha do presidente Honesto, é efectuada pelos partidos políticos e pelos senhores candidatos que utilizam o não-dito para se promover, mais os ministérios públicos e os presidentes da república que já há muito tempo não promovem e defendem a igualdade e a democracia.
Há muitos anos atrás um professor de filosofia perguntava numa aula: para que serve ter voz para reclamar e direitos para falar, se ninguém ouve?
Ouvi na SIC os responsáveis do blog dizer que tudo não passava de uma brincadeira, e que não tinham responsabilidade nas bigodaças dos candidatos.
Pois não sei quem colocou os bigodes, mas como foram os fãs do blog e como me considero fã.Devo ser responsável.
Senhores investigadores por favor investiguem-me.

Aos senhores do blog eu pergunto:
Quando alguém ouve é bom aproveitar para dizer que tudo não passa de uma brincadeira?
Não compreendo este sentido de oportunidade.
No entanto fica algo mais importante: a realidade dos bigodes nos cartazes.
A intervenção de rua foi importante para que as criaturas olhem para apalhaçada geral.
Aos senhores do blog eu pergunto:
Estão com medo da polícia?
Eu estou. E do ministério público especialmente, por causa do poder que tem e da falta de fiscalização.
Por isto estou com medo, mas o medo não me faz baixar os braços.
Gostava de um dia olhar para tudo isto como um início, uma nova forma de resistência politica, uma nova forma de confronto e de propaganda.
Que o regime seja corroído pelo que ele próprio criou: criaturas anónimas sem direito a uma voz que seja ouvida, indiferentes porque censuradas e alienadas no poder económico.
Aos senhores do blog eu digo:
Que venham as investigações para tornar o não-dito em dito e o nada importante em algo essencial.
Aos senhores do blog eu ofereço:
O meu abraço solidário,
e como o José Mário Branco (um companheiro de grandes bigodes) cantou um dia:
“Ser solidário assim pr’além da vida
Por dentro da distância percorrida
Fazer de cada perda uma raiz
e improvavelmente ser feliz”
