sábado, março 24, 2007

“Sem mais cerimonial afastei-me dali, guiando-me pelos sinais que tinha ido deixando pelo caminho. Enquanto percorria túneis e túneis de livros na penumbra, não pude evitar que uma sensação de tristeza e desalento me embargasse. Não podia evitar pensar que se eu, por puro acaso, tinha descoberto todo um universo num só livro desconhecido no meio da infinidade daquela necrópole, dezenas de milhares mais ficariam inexplorados, esquecidos para sempre. Senti-me rodeado de milhões de páginas abandonadas, de universos e almas sem dono, que se afundam num oceano de escuridão, enquanto o mundo que palpitava fora daqueles muros perdia a memória sem disso se aperceber dia após dia, sentindo-se tanto mais sábio quanto mais esquecia.”

Citação do livro A sombra do Vento de Carlos Ruiz Zafón , que não me era destinado, foi prenda para outra pessoa, mas que por acaso veio parar-me às mãos. Talvez os acasos sejam mesmo as cicatrizes do destino. Gosto mais de acreditar que o nosso destino ou propósito neste mundo nos vai sendo revelado através de acasos e de procura.

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1 Comments:

Blogger O Despachante said...

Em Junho um amigo a e a sua namorada estiveram comigo na costa alentejana, ela, holandesa falou-me de um livro que andava a ler, de um espanhol com 3 nomes. Ah sim? O interesse ficou por ali. 3 dias depois mudei de poiso um pouco mais a Sul depois de Aljezur. Nesse Turismo rural existe uma área de lazer com rede, mesa de snooker, alguns jogos de tabuleiro e 5 ou 6 livros. Um deles era "A Sombra do Vento" que estava ali à minha espera. Fiquei agarrado como há muito não ficava e no dia da partida ainda não o tinha acabado. Tive de o surripiar. Adorei o cemitério dos livros esquecidos, a personagem que vive por cima de uma praça com o mesmo nome da rua onde nasci e cresci e o abuso da palavra "assomar", entre outros, tantos, pormenores. Já vou para a segunda pessoa a quem empresto o livro e este acto de partilha, sinto que de certa forma, me iliba do meu crime.

Afinal de contas não fui eu o responsável por aquela cicatriz, da qual me chego a aorgulhar.

quinta-feira, setembro 06, 2007 11:15:00 da manhã  

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